Especulações davam conta, num dia, de que ela faria o papel de uma
aluna sexy; no outro, de que teria cenas de nudez e de sexo no longa.
"Não sei de onde tiraram essas coisas. A personagem nem se envolve
romanticamente no filme", rebate Sandy, vestida com uma roupa de
ginástica que, apesar de deixar a barriga à mostra, passa longe de um
visual picante.
"Estou acostumada com essas bobagens. Meu nome é muito 'mainstream' e
agora estou fazendo algo underground. Não faço filme para agradar
ninguém."
Apesar de uma presença "estranha" para um filme de horror psicológico
de baixo orçamento (cerca de R$ 1,5 milhão), Sandy logo viu que não
teria vida fácil.
Dividiu um pequeno camarim com outros atores, almoçou na região central e se integrou ao esquema de Dutra.
"É meu primeiro suspense, mas fui aceita como uma atriz e não como um
peixe fora d'água, uma cantora", diz sobre sua volta, exatos dez anos
depois de estrelar, ao lado do irmão, a fantasia "Acquaria". "A
experiência agora é diferente. Tenho 30 anos e tenho mais vivência."
A comoção não durou muito e "Quando Eu Era Vivo" voltou a ser tratado como filme e não veículo de promoção para a popstar.
"Quando convidei a Sandy, achei que ela poderia não topar, porque o
roteiro era bastante sombrio, mas foi tranquilo", conta Marco Dutra, que
é apenas dois anos mais velho que a cantora. "No começo, muita gente
achou esquisito. Depois entenderam a presença dela."
A escolha foi mais importante do que parece. Quando recebeu o convite
da RT Features para adaptar seu livro favorito de Mutarelli, Dutra ficou
preso na profissão de Bruna, uma estudante de desenho no romance.
POLANSKI E CANNES
"Quando trocamos o desenho pela música, o roteiro decolou. Vi que a narrativa poderia ter relação com a música, como eu tinha uma relação afetiva com Sandy", diz. "Seus discos estavam juntos com os da Xuxa e de Michael Jackson na minha casa", lembra o cineasta, que pediu que a cantora assistisse a "O Bebê de Rosemary", de Roman Polanski, como referência.
"Gosto muito de Polanski e de como explora os espaços domésticos", diz Dutra. "Gosto de relações familiares e de como elas interferem no íntimo das pessoas."
Esse estilo do cineasta tem agradado. Com a amiga Juliana Rojas, que assina a montagem de "Quando Eu Era Vivo", Dutra teve três curtas ("Lençol Branco", "O Ramo") e um longa ("Trabalhar Cansa") no Festival de Cannes.
Não é avançar o sinal presumir que seu novo longa possa estar novamente na "croisette", em maio deste ano. Mas o diretor não pensa no assunto quando falou à Folha, quase seis meses depois do fim das filmagens, acompanhadas pela reportagem, em setembro passado.
"Não tenho pressão para finalizar. Estou deixando o filme andar sozinho. Não adianta ter pressa. Cannes vai olhar para mim com carinho, mas o longa precisa ter o seu tempo."
Fonte: Folha de S. Paulo
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