domingo, 25 de dezembro de 2011

Entrevista com Sandy na capa da Q Revista - Edição 23


Em fase mais madura e tranquila da carreira, a cantora mostra por que muita gente se surpreendeu positivamente com seu trabalho solo.



Com 21 anos de carreira e apenas 28 anos de idade, a cantora e compositora Sandy Leah Lima se mostra, hoje, em uma fase mais madura e tranquila, sem se preocupar com os rótulos que a perseguiram ao longo de toda a sua carreira ao lado do irmão Junior, com a dupla Sandy e Junior.
Seu reconhecimento como intérprete começou aos 13 anos de idade, em uma homenagem à cantora Elis Regina e, desde essa data, Sandy já fez parcerias com Gilberto Gil, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Andrea Bocelli, Pedro Mariano, Ivete Sangalo, Marcelo Bratke, Enrique Iglesias, entre outros.
Com o fim da dupla com o irmão Junior em 2007, Sandy deu inicio a sua primeira turnê solo, casou-se em 2008, com Lucas Lima, vocalista e violista clássico do grupo Família Lima, e em 2010 lançou seu primeiro single do álbum “Manuscrito”, a música “Pés Cansados”.

Depois de receber um disco de ouro por ter vendido mais de 40 mil cópias com o CD Manuscrito, Sandy acaba de lançar o DVD “Sandy Manuscrito Ao Vivo”, resultado da turnê que fez por todo Brasil. Gravado em agosto de 2011, no Teatro Bradesco, em São Paulo, o projeto tem participações especiais de grandes nomes como Lenine, Seu Jorge e a inglesa Nerina Pallot e conta com direção geral de Junior Lima e Douglas Aguillar, e direção musical de Lucas Lima. 

“Adorei o convite para participar do DVD, me senti acarinhado”, comenta Lenine, que dividiu o palco com a cantora na música “Sem Jeito”. “Hoje eu percebo a Sandy alcançando um vôo muito mais universal. E eu tenho certeza que, fatalmente, vai dar em um sucesso muito grande. Estou bastante honrado de participar desse momento da carreira dela,” comenta Seu Jorge, que deixou todo seu suingue na faixa “Tão Comum”.

Não é fácil crescer em frente aos holofotes da mídia e aguentar a pressão da opinião pública em cima de cada passo dado, mas hoje Sandy está extremamente confortável na própria pele e realizada na vida profissional. Com declarações como “não sou filhinha de papai” e “já fiz sucesso, não estou em busca de aprovação”, a artista mostra por que muita gente se surpreendeu com o seu trabalho solo em Manuscrito.

Q!- No setlist do seu show, além das músicas de Manuscrito (“Pés Cansados”, “Dedilhada”, “Ela/Ele”, “Perdida e Salva”, “O que faltou ser”, “Duras Pedras”, “Dias Iguais”, “Quem eu Sou”, “Esconderijo e “Tempo”), você relembrou duas músicas da época em que fazia dupla com seu irmão (“Quando você passa – Turu Turu” e “Estranho Jeito de Amar”). Deu saudades desse momento? Porque você escolheu essas músicas?

Sandy – Saudades do meu irmão é constante, mas é uma saudade boa, claro que tenho saudades da dupla também, porque foi a maior parte da minha vida e fui muito feliz nessa carreira com ele, mas é uma “nostalgiazinha” gostosa, porque a dupla foi muito importante para nós, para a nossa vida e, claro que quando as lembranças são boas é óbvio que a gente sente saudades. Mas não é uma saudade de arrependimento, nada negativo, é só uma coisa boa mesmo que eu sinto, e é muito gostoso relembrar, poder cantar as músicas desse repertório com ele e ver o público cantando comigo; assim a gente consegue reviver alguns momentos. Eu escolhi essas duas músicas porque achei que elas estão um pouquinho mais dentro do que eu faço hoje em dia, elas tem uma sonoridade mais parecida com o que eu faço hoje, um estilo mais próximo, e eu senti que eram músicas que davam para eu adaptar o arranjo e transformar em algo bem coerente com meu repertório, então a gente mudou um pouquinho e deu para encaixar bem; além de que são músicas que marcaram nossa carreira.

Q!- Na música “Dias Iguais”, você conta com a participação da cantora e compositora britânica Nerina Pallot, como foi essa parceria?
Sandy - Essa parceria começou há um tempinho. Na verdade, eu conheci o trabalho dela há uns três anos e eu admirei muito, fiquei muito fã e eu tava começando a pré conceber alguma coisa do disco. Quando eu fiz a música “Dias Iguais”, fiz a música e a letra em português e fiquei imaginando o arranjo. Pensei que ficaria bem em um arranjo de piano e quem poderia tocar esse piano? Aí lembrei da Nerina, porque ela é uma excelente pianista. Nunca achei que ela fosse aceitar o convite, mas resolvi ir atrás. Consegui o contato, eu e o Lucas fomos para Londres conversar com ela, mostrei a demo com o que eu já tinha e ela se identificou com a música, aceitou cantar e se ofereceu para fazer a letra em inglês, então ela acabou virando minha parceira nessa música e, ao mesmo tempo, começou uma amizade muito bacana também. E agora, no DVD, é claro que eu tinha que chamar ela.

Q!- A produção tanto do show da turnê Manuscrito como do DVD teve direção geral do Junior Lima e direção musical do Lucas Lima, por que a escolha dos dois?
Sandy – Meu irmão, eu já conhecia um pouco o talento dele como diretor, então eu sabia que ele era capaz e resolvi jogar essa bomba pra ele. Eu o convidei pra dirigir o show no ano passado, para preparar essa turnê do Manuscrito, e ele aceitou o desafio, achou legal e chamou o Douglas Aguillar, que também é muito competente nessa área, e juntos eles me ajudaram a conceber esse show e pensar quem faria cenário, luz, enfim, tudo. Aí quando tive a ideia de fazer o DVD, não podia chamar outros diretores a não ser os que fizeram o show na estrada comigo. E o Lucas é a mesma coisa. Ele produziu meu CD junto comigo e na hora de fazer o show quis dar continuidade nesse trabalho, só pra manter a mesma linha de trabalho, porque é aquela coisa… em time que tá ganhando né… Achei bacana, fiquei satisfeita com o meu CD, com o show que estava na estrada e não tinha porque chamar outras pessoas para fazer.

Q!- Pelas suas colocações, você está numa fase mais amadurecida e mais calma da sua carreira…
Sandy - É, tô numa fase bem calma mesmo. Ah, não sei, eu sinto que não preciso provar nada para ninguém. Tive uma carreira de 17 anos ao lado do meu irmão, graças a Deus, bem sucedida, fiz lá muitas músicas de que posso me orgulhar, mas enfim, hoje parti para outra coisa, tô fazendo meu caminho. Meu trabalho hoje vem de dentro pra fora, eu busco o que eu quero, o que eu sonho, o que eu gosto, o que penso. Reflito sobre tudo isso e tento pensar sempre em música, no meu trabalho, no meu show, no DVD e quero fazer música para quem quiser me ver. Quem quiser ir ao meu show vá ao meu show, eu vou ficar feliz; mas quem não quiser ir, não tem problema. Quer comprar o DVD compra, não quer também não tem problema. Eu tô aqui pra me divertir, me sinto nesse momento muito solta, muito livre para me divertir, eu já fiz sucesso com o meu irmão então se eu não fizesse sucesso agora… Graças a Deus o CD foi muito bem sucedido, mas foi uma consequência boa que veio, não era o que eu estava procurando ou buscando, e não é o mais importante pra mim. O importante para mim é que eu faça música que eu quero e que eu goste, para quem estiver disposto a ouvir. É um momento mais maduro mesmo.

Q!- Você parece muito realizada, tanto na vida profissional como na vida pessoal. O que ainda falta você realizar?
Sandy - Eu costumo dizer que vou sonhando e realizando. Esse ano, meu sonho que eu queria buscar era o DVD, fui lá, realizei, e foi bacana. Apareceram coisas, outros projetos, todos ao mesmo tempo, eu fiquei doidinha, coisas que eu nem sonhei, mas vieram, por exemplo, nem sonhei estar no palco ao lado do Bocelli depois de quatorze anos da parceria com ele, e aconteceu. Então eu deixo as coisas acontecerem e vou tomando minhas decisões conforme eu vou achando que são boas para mim ou não, e meus projeto são assim; tenho uma ideia, vejo se tem condições, vou lá e busco, mas um sonho à longo prazo assim não sei, enquanto eu ainda puder ter o que mais amo como profissão, que é a música, eu vou estar feliz. Quero continuar fazendo aquilo que mais amo, que é minha profissão e meu hobby preferido também: compor e cantar. Eu tô bem feliz, bem realizada. Na vida pessoal, acho que o que falta ainda talvez seja a maternidade, mas não é agora. Vou esperar um pouquinho, fazer umas coisas de trabalho antes, aproveitar um pouco mais a vida de casada, mas depois eu quero ser mãe e então vai ficar tudo completo.

Q!- Na questão da publicidade, que acaba sendo grande parte da receita do artista, como foi a experiência com a Devassa? Valeu à pena?
Sandy - Foi uma decisão certa, valeu à pena, mas a questão da publicidade que eu falei não é uma coisa que eu vou buscar. A gente fica esperando que venha até a gente e a Devassa chegou até mim num momento em que eu estava mais tranquila de trabalho, logo no início do ano; e tinha que gravar imediatamente. Então, eu parei um pouco para pensar e falei: Ah, porque não? Que legal, não devo nada pra ninguém, eu sou adulta e posso fazer um comercial de cerveja, qual o problema? Não estou passando nenhuma mensagem do tipo beba e dirija, nada disso, então simplesmente pensei pouco e aceitei. Achei que foi uma decisão bacana. Pensando na coisa da publicidade mesmo, rendeu muito para eles, eles ficaram bem satisfeitos e, para mim, foi como uma avalanche, com muitos boatos. Fui brincar com a minha imagem, mas não me afetou negativamente. Fiquei bastante em exposição naquele momento, no carnaval. A gente dá uma assustada porque foi mais do que eu esperava, mas foi tudo bem.

Q!- Como estão seus fãs hoje em dia, são aqueles do começo da carreira que te acompanham ou também tem fãs novos?
Sandy - É bem isso mesmo, eu tenho fãs que continuam me acompanhando e percebo que alguns fãs pararam quando viram meu trabalho novo, não gostaram muito, estavam esperando uma coisa mais próxima ao Sandy e Junior, ou sei lá o que. Tem gente que fala: “Ah, faz uma música mais Lady Gaga, faz uma música mais não sei o que lá…” e não é bem isso. Faço música de acordo com o que eu sinto, com o que eu gosto. E, paralelo a isso, outra parte ficou e aprecia, gosta, vai aos shows e viaja o Brasil para acompanhar. Acho isso muito legal e percebo que foi a maior parte, os fãs mais fiéis, que eram fãs de anos; a maior parte ficou. Mas sinto uma galera nova procurando também, pessoas que não curtiram meu trabalho com Sandy e Junior e agora gostam do estilo atual. Vejo muito pelo twitter as pessoas se surpreendendo positivamente: “Nossa, não esperava… ouvi o CD da Sandy e não é que gostei?! Não esperava que ia gostar…” Então, às vezes, a pessoa já vai com o pezinho atrás e depois acaba gostando. Não tem problema se vai com um pé atrás, o importante é depois, o resultado, e tá bem positivo.

Q!- Você comentou que o twitter é o seu maior termômetro com os fãs, qual o lado positivo e negativo do twitter para os artistas?
Sandy - O lado positivo é que é um contato direto com os fãs. É um canal próprio de comunicação, você poder falar a verdade, o que você pensa, qual a sua verdade… É uma ferramenta que está na nossa mão. Me senti sempre impotente quando saía boatos, fofocas maldosas a meu respeito e não podia fazer nada para me defender e hoje tenho essa ferramenta na minha mão. Mas o lado negativo é que a gente pode se empolgar e esquecer e falar algo não só para os fãs, porque a imprensa toda está de olho e às vezes acaba tirando uma frase dali, uma frase daqui e fazem repercutir de uma maneira totalmente desnecessária na mídia, mas se souber se controlar e tomar cuidado na hora de postar tudo bem.

Quanto aos boatos e fofocas a seu respeito, você acha que ainda existe certa má vontade com você? Uma cobrança para você ser algo que não é?
Sandy - Existe um preconceito às vezes ainda em relação a minha música, porque antes de ouvir o trabalho a pessoa já vai fazendo “achismos”, dando opiniões, sem nem ter ouvido; e aí, quando ouve, acaba se surpreendendo positivamente. Mas não é generalizado, houve uma queda grande com esse meu trabalho solo, eu e meu irmão já estávamos nesse caminho há um tempo, quebrando preconceitos, e ainda existe muito em todos os lugares, em todo meio, com todo tipo de música. Mas existe. Algumas pessoas acham que não vão gostar do trabalho; não sei se é porque comecei criança, aí tinha aquela imagem ainda. Não me levaram tão a sério por ter começado cedo ou porque sou filha de cantor sertanejo. Não sei por que algumas pessoas criaram esse preconceito, que me acompanhou ao longo da minha carreira. Mas hoje estou conseguindo quebrar um pouco; quem dá chance, pode gostar ou pode até não gostar, mas primeiro ouve. Acho que isso é mais importante e percebo que quem para pra ouvir é maioria e acha que é bacana, que é um trabalho bem feito pelo menos. Pode não ser do gosto da pessoa, mas vê que é bem feito; já vi críticas assim.

E essa parte da imagem ainda continua aquilo que as pessoas querem que eu seja. Isso diminuiu muito depois que eu casei, que cresci e fiz o trabalho solo, mas ainda tem uma cobrança. Tem gente que não quer perceber, não quer me deixar crescer, não quer entender que já tenho 28 anos, 21 anos de carreira… que sou macaca velha já. Não tô aqui brincando, não sou uma menininha, filhinha de papai famoso que quer cantar; acho que já tenho minha carreira, já provei isso. A questão da imagem vem me preocupando cada vez menos, eu sei quem eu sou e tenho agido assim, sempre coloquei como objetivo para mim mesma, como meta, não ter atitudes artificiais, não ser quem eu não sou para que me vejam de certa maneira. Eu vou ser eu e pronto acabou, vou agir naturalmente, ser essa pessoa discreta, falando pouco sobre a vida pessoal. Sempre fui assim e muitas pessoas acham que como não vivo minha vida na frente das câmeras dos paparazzi essa vida não existe, então tem uma imagem criada de que se eu não mostro, eu não saio, não tenho amigos, essas coisas. Mas não vou mudar minha vida, minha atitude, deixar de preservar minha vida.

Quem ainda não conferiu o trabalho solo da cantora vai encontrar no DVD ao vivo versões de “Beija Eu”, de Marisa Monte; “Casa”, de Lulu Santos; “Por Enquanto”, de Renato Russo, além de músicas internacionais como “Wonderwall”, “Put your records on” e “Black horse and the cherry tree”. Até janeiro Sandy também vai participar em algumas cidades brasileiras do projeto de covers do Circuito Cultural, cantando Michael Jackson, com releituras de várias músicas de sucesso como “Bad e “Smooth Criminal”. Quem quiser matar as saudades da artista como atriz também pode conferir em 2012 a série “As Brasileiras.”

Por MAIARA LIMA

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